Educação e Resiliência: O Papel da Biblioteca Comunitária na Vida de Idosos com História de Abandono Escolar

Por Tamara Caetano

 

A Biblioteca Comunitária Vila dos Criadores tem desempenhado um papel fundamental na educação da comunidade, oferecendo espaços de aprendizado, cultura e troca de experiências. Recentemente, um grupo de alunos se reuniu para compartilhar vivências em uma Roda de Conversa sobre um tema marcante e incomum em suas trajetórias: o abandono escolar. Esse encontro revelou emoções, desafios e, também, destacou a importância da frequência escolar na construção de uma trajetória de vida mais estável e promissora. As histórias narradas durante a roda de conversa mostram que as razões para sair da escola foram diversas, mas muitas del  as têm um fio condutor incomum: contextos sociais e econômicos.

“Com sete anos eu já trabalhava na roça, plantava mandioca, feijão, milho, abóbora, melancia. Era eu, meus pais e doze irmãos, fiz até o quarto ano e só ia para escola três vezes na semana.”, explica Damiana Porfírio Lima da Silva, de 57 anos, aluna das oficinas de Direito e Cidadania, Alfabetização e Leitura, Artesanato e Bordado. Damiana é de Pernambuco, nascida na Cidade de São João e mora há 25 anos na Vila dos Criadores. Em conversa com nossa equipe, ela relata a diferença da Biblioteca Comunitária em sua vida pessoal. “Agora estou feliz, estou contente e distraio a cabeça. Até minha filha pergunta se eu não vou para aula. Gostei muito de passear na Pinacoteca Benedito Calixto, de visitar o Aquário e também gosto de bordar”.

Entre as diversas histórias compartilhadas na Roda de Conversa sobre abandono escolar, a trajetória da aluna Maura Ribeiro, de 71 anos, também chamou atenção. Natural da cidade de Governador Valadares, Minas Gerais, Maura teve uma infância difícil ao lado da família. Ainda criança, ela acordava de madrugada, junto da mãe, para colher feixes de lenha para vender na cidade e comprar mantimentos. Exerceu diversas profissões e nunca frequentou a escola na época adequada, chegou a ter acesso ao ensino posteriormente, mas não conseguiu aprender a ler e escrever. Até hoje sente muita dificuldade para vencer o obstáculo da não alfabetização.

Na fase adulta, após um casamento problemático chegou a morar na rua com seus seis filhos. “Fiz uma casa de plástico com lona e coloquei os meninos ali e ia trabalhar. Falava para minha filha Valdirene olhar os irmãozinhos dela e depois eles iam para a escola. Não estudei, mas eles iam estudar. A gente não tinha relógio, ensinei eles a ver o horário pela sombra e pelo sol para não perder a aula”. Sua descrição evidencia o impacto do abandono escolar e o esforço para que seus filhos não enfrentassem os mesmos desafios. Maura também é frequentadora das três oficinas oferecidas pela Biblioteca Comunitária Vila dos Criadores.

As histórias compartilhadas também destacam as dificuldades enfrentadas por mulheres que precisaram abandonar os estudos devido à falta de apoio familiar e às violências domésticas. Arlene Maria dos Santos de 64 anos, casou cedo e teve seu primeiro filho enquanto ainda estava na escola. Criada em uma família com catorze irmãos, ela permaneceu casada por dezoito anos e vivenciou diversas situações agressivas e hostis em seu relacionamento.

A necessidade de cuidar do filho recém-nascido sem uma rede de apoio a fez abandonar os estudos. Arlene tentou deixar o filho com sua mãe para continuar na escola, ela pedia para o irmão caçula de Arlene cuidar do bebê e não dava certo. “Parei no segundo ano para cuidar do meu filho e depois não voltei mais”.

 

Analfabetismo entre idosos ainda é significativo

 

Segundo informações oficiais do governo brasileiro, o analfabetismo entre idosos ainda é expressivo, apesar de apresentar queda com o passar dos anos. Os dados mais recentes são extraídos do Censo Demográfico realizado pelo IBGE em 2022. De acordo com o levantamento, a taxa de analfabetismo na população com 65 anos ou mais era de 20,3%. Esse índice representa uma diminuição em relação aos censos anteriores, que registraram 29,4% em 2010 e 38,0% em 2000, indicando uma queda de 17,7 pontos percentuais ao longo de vinte anos.

As histórias compartilhadas na Roda de Conversa reforçam a importância de iniciativas como a Biblioteca Comunitária Vila dos Criadores, que promovem acesso ao conhecimento e transformam vidas por meio da educação. *A fonte dessa pesquisa é o INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE), com dados extraídos do Censo Demográfico 2022. Para mais informações, você pode acessar o site oficial do IBGE: https://www.ibge.gov.br.

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